Capítulo 10
– Este capítulo enfatiza outro aspecto da transição do judaísmo para o
Cristianismo; foca no novo princípio sobre o qual Deus irá reunir Seu povo na
nova dispensação.
O Senhor
anunciou que Ele iria tirar Suas ovelhas (os crentes judeus) para fora do “aprisco” e trazê-los para a gloriosa
liberdade de Seu “rebanho” no
Cristianismo (v. 16). Um aprisco e um rebanho representam dois princípios
contrastantes de reunião. Ambos mantêm as ovelhas juntas, porém de formas
completamente diferentes. Um aprisco (ou curral) é uma circunferência sem um
centro; um rebanho é um centro sem uma circunferência. No aprisco, as ovelhas
são mantidas juntas pela cerca ao redor delas. Isso fala dos princípios
restritivos do sistema legal na velha dispensação mantendo os israelitas juntos
em uma posição de separação das nações à sua volta. O rebanho, não tem necessidade
de uma cerca; as ovelhas têm uma atração ao Pastor no centro delas e são
atraídas por Ele. Assim,
elas são mantidas juntas, mas em um princípio completamente diferente. Isso
retrata o princípio de Deus de reunião no Cristianismo (Mt 18:20). Cristãos
nessa nova ordem se reúnem para adoração e ministério, não porque são forçados
por mandamentos legais, mas porque querem estar onde Cristo está. Como os
judeus naturalmente iriam se ofender com alguém entrando em seu aprisco e
conduzindo alguns para fora, o Senhor afirmou que esse alguém tinha que ser
qualificado para fazê-lo. Ele reconheceu que um impostor (“o ladrão e salteador”) poderia vir sem ter as qualificações
ordenadas por Deus, mas Suas ovelhas os “não
seguirão” porque “não conhecem a voz
dos estranhos” (vs. 1, 5). Um exemplo disso são “Teudas” e “Judas” (At
5:36-37).
Não obstante, o Senhor veio pelo
caminho designado por Deus, que é chamado “a
porta” (v. 2). Essa porta de entrada para o aprisco, pela qual o Messias
deve entrar, é esboçada pelos profetas do Velho Testamento.
- O tempo de Sua vinda a este mundo (Dn 9:26 com Sl 102:24).
- O lugar de Sua entrada neste mundo (Mq 5:2).
- Seu nascimento virginal (Is 7:14).
- Sua anunciação (Is 40:3; Ml 3:1).
- A maneira de Sua vida (Is 53:3)
- O caráter de Seu ministério (Is 42:1-3).
- Sua habilidade de introduzir “os poderes do mundo vindouro” e assim dar a Israel o reino (Hb 6:5; Lc 7:22; Is 33:24, 35:5-6; Sl 65:6-7, 89:9, 132:15, 146:7-8).
- Sua humilde apresentação para a nação (Zc 9:9).
O Senhor veio
para o aprisco judaico (o sistema judaico instituído por Deus por intermédio de
Moisés) de acordo com essas especificações exatas. Não podia haver dúvida de
que Ele era o Messias de Israel – o verdadeiro “Pastor das ovelhas” (Sl 23:1, 77:15, 78:67, 80:1, 95:7, 100:3; Is
40:11; Ez 34:31; Zc 11:7-9; 13:7). O Espírito de Deus (“o Porteiro” – v. 3) identificou-Se completamente com o Senhor ao “descer do céu como uma pomba” (Jo
1:32-34, 6:27; 1 Tm 3:16) e permanecendo n’Ele. Assim o Espírito deu testemunho
(“abre” a porta) que o Senhor Jesus
era de fato o verdadeiro Pastor de Israel (v. 3). Assim sendo, o Senhor, sendo Quem
era, tinha o direito de introduzir essa mudança dispensacional.
A obra do Senhor
no aprisco, ao ser rejeitado (Jo 1:11), era unir os corações das ovelhas a Ele
mesmo, os chamando “pelo nome” (que
fala da intimidade da comunhão), e então os tiraria “para fora” do aprisco (v. 3). Ao conduzir os Seus para fora, o
Senhor estava indicando que estava a ponto de deixar aquela ordem toda e levar
Suas ovelhas com Ele. Isso seria depois de Sua ressurreição. Hebreus 13:13 nos
fala que Sua presente posição no Cristianismo é agora completamente “fora do arraial” do judaísmo – a Quem os
crentes são exortados a ir. Então, o Senhor mencionou que usaria outros meios
para tirar os Seus para fora do aprisco do judaísmo – Ele “tira para fora as Suas ovelhas” (v. 4). Isso implica
pressão – ser empurrado para fora. O homem cego no capítulo anterior teve essa
experiência. Os judeus “expulsaram-no”
do aprisco; os líderes da nação “o
excomungaram” (cap. 9:34 – nota marginal na KJV). De um modo ou de outro, o
Senhor estava atuando e Suas ovelhas estavam sendo tiradas para fora do aprisco
judaico.
Aqueles que
ouviram a alegoria não entenderam o seu significado (v. 6). Isso é porque
estavam ainda no aprisco judaico e há um certo grau de entorpecimento ligado a
estar nesse sistema (Hb 5:11). Isso levou o Senhor a falar de uma segunda “porta”. Ele disse, “Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a
porta das ovelhas” (v. 7 – ATB). Ele era a porta de libertação pela qual
uma pessoa é trazida para fora do aprisco judaico. Ao fazer esta afirmação, Ele
estava concedendo a cada crente judeu uma autorização para deixar o judaísmo.
Antes disso, nenhum judeu tinha a autoridade para deixar aquela religião dada
por Deus, mas agora Deus mesmo, na Pessoa do Filho, estava abrindo a porta e concedendo
libertação daquele sistema.
O Senhor então
falou de uma terceira “porta”. Essa
é a porta que leva à bênção e privilégio Cristãos. A entrada para essas coisas
seria também por Ele. Ele disse, “Eu sou
a porta; se alguém entrar por Mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará
pastagens” (v. 9). Essas distintas bênçãos e privilégios Cristãos são:
- Salvação da alma (v. 9a).
- Liberdade – entrando e saindo para adoração e ministério (v. 9b).
- Comida espiritual na revelação da verdade Cristã – “pastagens” (v. 9c).
- Desfrutar da abundante “vida” – vida eterna (v. 10).
- Cuidado e proteção pastorais (vs. 10-15)
- Unidade de judeu e gentio em “um rebanho” – comunhão (v. 16).
- Segurança eterna – “nunca hão de perecer” (vs. 28-29).
Versículos 10-15
– Libertadas do confinamento do judaísmo, as ovelhas ficariam sem a proteção do
aprisco, mas isso não significa que elas iriam ficar sem proteção. O “mercenário” (um pastor descuidado)
deixará as ovelhas quando problemas vierem e um “lobo” (um falso profeta – Mt 7:15) dividirá e dispersará as
ovelhas (At 20:29-30). Mas o Senhor prometeu que aquelas ovelhas que Ele conduz
para fora do aprisco seriam cuidadas e protegidas. Como “o bom Pastor”, elas seriam colocadas sob Seu cuidado divino. Seu
amor e devoção ao rebanho era tal que Ele daria a Sua vida pelas ovelhas e
assim protegê-las a todo custo. A menção de pastores descuidados e falsos
profetas perturbando o rebanho indica que haveria muitos maus obreiros na
profissão Cristã que tentariam atacar os Cristãos. Conforme olhamos para o
Cristianismo hoje, vemos muitos líderes, que foram levantados segundo a ordem
dos “mercenários”, fazendo comércio
com o serviço a Deus (2 Co 2:17 – “mercadejando”
– ATB). Vemos também muitos “falsos
mestres” (2 Pe 2:1 – ATB) com caráter de “lobos”. O Senhor não esconde o fato de que Suas ovelhas seriam
testadas por essas pessoas no ambiente Cristão, mas no Cristianismo verdadeiro,
onde Cristo está no meio de Seu rebanho, Ele as protegerá de todos esses
ataques.
Versículo 16 – O
Senhor tinha “outras ovelhas” que
Ele iria reunir. Não há menção de essas serem tiradas para fora do aprisco,
porque elas nunca estiveram nele. Esses são crentes gentios. Eles, com Suas
ovelhas que tirou para fora do aprisco, seriam “um rebanho” de crentes judeus e gentios (Ef 2:13-18).
Assim, há três portas nesta passagem que indicam a
mudança dispensacional:
- A porta da profecia relativa ao Messias pela qual Cristo entrou no aprisco judaico (v. 2).
- A porta da libertação para fora do judaísmo pela qual Cristo tirou os Seus para fora do aprisco (v. 7).
- A porta para a bênção e privilégio Cristãos onde as ovelhas de Cristo viveriam e serviriam a Deus (v. 9).
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